Juiz de Fora, 19 de
maio de 2016.
Caro Otávio,
Não sei quanto aos peixes, aos poemas, aos livros, mas nós estamos
cada vez mais sumidos das fotografias. A verdade é que o mundo não está para
fotografias, porque elas não conseguiriam revelar o mais difícil que, neste
momento, não é a luz; é a sombra, e que triste que seja assim.
De acordo com um dicionário etimológico que encontrei outro dia na
estante, a origem da palavra “resistência” está no latim “sistere”, que
significa “parar, permanecer, ficar de pé, estar presente”. O prefixo
“re” aponta para uma insistência nessa ação, como um chamamento a realizá-la
outra vez. Não sei nada de etimologia e minhas últimas aulas de Latim
datam de mais de 10 anos atrás, mas entendi, ou quis entender, que “resistir”,
portanto, talvez não seja nada mais do que insistir em estar.
E estamos. Então, resistimos. Pelo não, pela recusa, pela própria
resistência. Mas nos perguntamos até que ponto isso é suficiente. Não estamos
em um festival de cinema internacional; não temos cartazes em inglês ou francês
para mostrar para a imprensa, mas daqui deste palco, deste bar, na Rua Espírito
Santo quase esquina com a Avenida Rio Branco, na cidade de Juiz de Fora, Minas
Gerais, Brasil, América Latina, mundo: daqui resistimos enquanto procuramos uma
maneira de resistir. E por um único motivo: precisamos.
Talvez eu tenha escrito essa carta para falar dos seus poemas e
dos peixes. Talvez isso seja uma resposta àquela sua mensagem sobre o golpe.
Talvez eu apenas precisasse escrever alguma coisa. Ou talvez seja só um modo de
reaprender a respirar.
Com amor,
Laura
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